sábado, 29 de junho de 2013

O discurso publicitário e o contra-discurso das ruas

Em meio as manifestações dos últimos dias, a "voz" que se fez ouvir nas ruas e redes sociais através de cartazes, imagens, tuítes e afins ecoou o alienante discurso publicitário. Essa apropriação, porém, atribui-lhe um novo significado repletos de ironia, cinismo e criticidade.

A idiotizante mensagem do "Imagina a Festa", trazendo Ronaldo como garoto propaganda, celebrando o estereótipo do brasileiro "bobo-alegre" que só pensa em beber essa cerveja aguada que vendem por aí, dava a dimensão da expectativa que os idealizadores e patrocinadores tinham sobre a Copa de 2014: um carnaval generalizado em julho, marcado pelo consumo exagerado de seus produtos. Coincidentemente, o garoto propaganda em questão deu uma das declarações mais panacas da história, ao tentar justificar a gastança dizendo que uma Copa "não se faz com hospitais". Imagina...
Mas irônico mesmo foi o jingle da montadora que convocava todos com o seu "vem pra rua porque a rua é a maior arquibancada do Brasil", ter se tornado o slogan do movimento com o foco principal na redução das tarifas do transporte público, que tem como objetivo final a tarifa zero, o que no fundo é a antítese da cultura automobilística na qual vivemos e que recebe inúmeros incentivos do governo. Falcão, cantor e compositor d'O Rappa, que já escreveu diversas letras de cunho social, e intérprete do jingle, deve estar orgulhoso de sua mais "revolucionária" criação.
Por fim, depois que o movimento se propagou, a frase adotada pela massa para simbolizar esse novo momento em que o país parece ter despertado de sua embriaguez foi "O gigante acordou", inspirada em um comercial de uísque.
Nossa publicidade que sempre foi muito criativa e premiada, agora pode se gabar de ter criado uma repertório muito mais vasto que o da "geração coca-cola" cantada por Renato Russo.

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